NEUROPLASTICIDADE (I): A CRIAÇÃO DO HÁBITO

(E COMO ISSO PODE SER ÚTIL)

 

 

Por muito tempo a ciência acreditou que apenas o cérebro de crianças sofria alterações ao longo do desenvolvimento. Hoje sabemos que o cérebro de adultos também muda de acordo com nossas experiências de vida. A isso chamamos de neuroplasticidade. Estudos recentes apontam que essa plasticidade do cérebro pode estar relacionada com a criação e manutenção de hábitos, como estudar uma nova língua.

Por meio de pesquisas de mapeamento cerebral com microeletrodos, o neurocientista Michael Merzenich, professor emérito da Universidade da Califórnia, chegou a uma importante descoberta. A plasticidade do cérebro não se limita à capacidade de criar novas ligações sinápticas para cada nova ação que realizamos. Nosso cérebro também é capaz de mudar sua constituição física se uma ação for repetida com frequência.

A tendência natural do cérebro de formar padrões de comportamento faz com que ele reforce ações conhecidas, nossos hábitos, e resista a ações novas. Por exemplo, se sou sedentário e começo a me exercitar todos os dias, meu cérebro resistirá de início, tudo parecerá mais difícil do que realmente é e terei o desejo natural de desistir. A partir do momento em que venço essa barreira inicial, meu cérebro passa a reforçar as sinapses relacionadas ao exercício físico até o ponto em que incorporo essa atividade no meu cotidiano. A descoberta do Dr. Merzenich, portanto, significa que podemos moldar nosso cérebro para criar hábitos.

É preciso entender que a resistência do cérebro em relação a novos comportamentos se dá devido ao tecido nervoso ser plástico, não elástico. As mudanças do cérebro exigem persistência e levam tempo. Pesquisas recentes, como a conduzida pela Dr. Phillippa Lally da University College, indicam que são necessários em torno de 66 dias para que um comportamento anteriormente desconhecido se torne automático para o cérebro.

Por que é útil saber isso? Porque, sabendo como funciona nosso cérebro, fica mais fácil coordenar nossa vida e nossos estudos (ou dos filhos, já que o mesmo processo se aplica a eles). A resistência do cérebro às novas atividades pode nos deixar desmotivados depois de passado o primeiro impulso. Devemos encarar isso com naturalidade e compreender que tal desconforto é passageiro. Assimilar novos hábitos é um processo lento, por vezes árduo, mas sempre gradual.

Por isso, desafie-se. Comece a aprender uma nova língua, estude em casa um pouco mais do que costuma, leia um pouco mais, pratique exercício físico, comece uma dieta ou dedique-se ao seu crescimento pessoal e profissional. Nos próximos 66 dias, persista e usufrua de sua neuroplasticidade para criar novos hábitos.