O DILEMA E AS REDES

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

“Nada grandioso entra na vida dos mortais sem uma maldição”. Essa frase do dramaturgo grego Sófocles (497 a.C. – 406 a.C.) assume um sentido bem específico quando a encontramos na abertura do documentário The Social Dilemma (O Dilema das Redes) lançado pela Netflix no dia 9 de setembro.

O documentário causa certo desconforto ao reunir ex-executivos de grandes empresas do mundo da tecnologia para revelarem detalhes dos algoritmos por trás das redes sociais. Entre o grupo, destaca-se Tristan Harris, que, ironicamente, trabalhava como designer ético do Google quando suspeitou de políticas internas de manipulação dos usuários. Segundo os testemunhos reunidos, o algoritmo é criado para utilizar informações geradas pelos próprios usuários para manipular seu comportamento nas redes. Quanto mais o usuário navega, mais informações fornece sobre suas preferências; utilizando-se dessas preferências, as empresas impulsionam mais publicações que correspondam ao gosto pessoal do usuário e o mantenham na específica rede por mais tempo. É um processo de vício fabricado.

A empresa de análise e pesquisa Decode fez um levantamento três semanas após o lançamento do filme. Enquanto a mensagem final do documentário recomenda a redução do uso de aplicativos e diminuição do tempo gasto online, a pesquisa revela que as buscas no Google por “desativar Facebook” cresceram 250% desde o dia 9 de setembro, lançamento do documentário. Além de desativar algumas contas, usuários chegaram ao ápice da ironia: usaram suas contas em redes sociais para criticá-las.

Nesse ponto, nos perguntamos: quais são as reais ameaças de dar um simples refresh na linha do tempo das redes sociais? Os efeitos são visíveis na vida em sociedade, principalmente os efeitos em nossos jovens: sofrimento por ficar sem o celular, ansiedade crescente, aumento do índice de depressão e sensação de vazio existencial, todos denunciados no filme. O que se torna preocupante quando constatamos que o Brasil é o terceiro país com maior tempo gasto em aplicativos num ranking de 46 nações… Além disso, segundo levantamento do antivírus Kaspersky, 80% dos usuários brasileiros aceitam expor as informações de seus perfis em redes sociais e afirmam não se importar com limitação de privacidade desde que recebam algum benefício em troca.

O que fazer diante de tantos dados alarmantes? O mais recomendado é um pouco de calma e a redução gradual do número de horas que passamos online. As redes sociais são um espaço para opinião e é vital que elas se mantenham livres; é o potencial de se transformarem em um vício o que as torna nocivas. Agora é nossa hora de trabalhar individualmente e com a família para combater o vício em aplicativos e tornar nosso dia mais produtivo. Qual a necessidade de estar online o tempo todo? Seu dia será ruim se silenciar notificações ou mantiver distanciamento físico de seu smartphone? A solução para o dilema das redes passa pelo autocontrole do usuário.